DISFAGIA NO PARKINSON: DESAFIOS NA DEGLUTIÇÃO E QUALIDADE DE VIDA
A doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta o sistema nervoso central, resultando em sintomas motores característicos, como tremores, rigidez muscular, bradicinesia (movimentos lentos) e instabilidade postural. Esses sintomas são atribuídos à degeneração progressiva das células produtoras de dopamina no cérebro, particularmente na região chamada substância negra. Embora os sintomas motores sejam mais reconhecidos, a doença de Parkinson também pode apresentar sintomas não motores, como distúrbios do sono, alterações cognitivas e problemas gastrointestinais, incluindo a disfagia, que é definida como dificuldade em engolir alimentos e líquidos.
A disfagia ocorre devido à deterioração das estruturas neuromotoras envolvidas na deglutição, incluindo músculos da boca, faringe e esôfago. A prevalência de disfagia em pacientes com Parkinson varia, mas estudos indicam que ela afeta uma proporção significativa de pacientes, variando de cerca de 30% a 80%, à medida que a doença progride.
A disfagia não apenas interfere na capacidade de se alimentar, mas também pode levar a problemas de saúde mais graves, como pneumonia por aspiração de alimentos ou líquidos para os pulmões. Além disso, a disfagia pode impactar negativamente a qualidade de vida, causando perda de peso, desnutrição e isolamento social devido às dificuldades em participar de refeições.
FATORES CONTRIBUINTES PARA A DISFAGIA NO PARKINSON
A disfagia em pacientes com Parkinson é resultado de uma interação complexa entre a degeração neuronal, as disfunções no sistema nervoso central e influência dos medicamentos dopaminérgicos. A coodenação neuromotora necessária para a deglutição podem ser comprometida devido à degeneração neuronal característica da doença. Além disso, a disfunção no sistema nervoso central, incluindo áreas responsáveis pelo controle motor da deglutição, também contribui para a disfagia. Os medicamentos dopaminérgicos, fundamentais no tratamento do Parkinson, podem afetar os sistemas motores e sensoriais envolvidos na deglutição, agravando a disfagia.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA DISFAGIA NO PARKINSON
A disfagia em pacientes com Parkinson apresenta manifestações clínicas distintas nas diferentes fases da deglutição. Na fase oral, os pacientes podem experimentar dificuldades em manipular o alimento na boca devido à redução da coordenação motora fina, levando a dificuldades na formação do bolo alimentar. Na fase faríngea, problemas de coordenação muscular podem resultar em engasgos, tosse e, em casos mais graves, aspiração de alimentos para as vias aéreas. Na fase esofágica, o declínio do tônus muscular pode causar dificuldades na passagem do alimento para o estômago.
O PAPEL DO FONOAUDIÓLOGO E MÉDICO NA AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Tanto o fonoaudiólogo quanto o médico desempenham papéis cruciais no processo de diagnóstico, avaliação e tratamento da disfagia em pacientes com Parkinson. Enquanto os médicos são responsáveis pelo diagnóstico e monitoramento da doença subjacente, os fonoaudiólogos aplicam suas habilidades especializadas na avaliação detalhada das funções da deglutição e na implementação de estratégias terapêuticas direcionadas.
A avaliação e diagnóstico da disfagia em pacientes com Parkinson envolvem a observação clínica da mastigação e deglutição, juntamente com a análise da coordenação muscular durante esses processos. Além disso, técnicas como a videofluoroscopia da deglutição oferecem uma visão detalhada e em tempo real da deglutição, permitindo a identificação precisa de possíveis disfunções que contribuem para a disfagia.
Diversas abordagens terapêuticas são utilizadas para lidar com a disfagia em pacientes com Parkinson. A modificação da consistência dos alimentos é uma estratégia comum para evitar a aspiração, onde alimentos mais pastosos e espessados são preferidos. Manobras posturais, como inclinar a cabeça para frente durante a deglutição, podem ajudar a prevenir a aspiração de alimentos para as vias aéreas. A terapia de reabilitação da deglutição envolve exercícios específicos para fortalecer os músculos envolvidos no processo de deglutição, visando melhorar a coordenação muscular. Além disso, técnicas inovadoras, como a estimulação elétrica funcional, mostram promessa na melhoria da função da deglutição.
IMPACTO NA QUALIDADE DE VIDA
A disfagia em pacientes com Parkinson tem um impacto substancial na qualidade de vida. A dificuldade em engolir pode resultar em uma ingestão insuficiente de nutrientes e líquidos, levando à desnutrição e desidratação. O risco de aspiração pulmonar aumenta, aumentando a probabilidade de pneumonia, uma complicação grave. Além dos efeitos físicos, a disfagia também pode ter implicações psicossociais, causando ansiedade, depressão e isolamento social devido às dificuldades em participar de refeições sociais.
CONCLUSÃO
A disfagia na Doença de Parkinson é uma complicação séria que pode levar a consequências significativas para a saúde e qualidade de vida do paciente. O diagnóstico precoce e a abordagem colaborativa entre profissionais de saúde, especialmente fonoaudiólogos e médicos, são cruciais para gerenciar essa condição. A implementação de estratégias de tratamento adequadas pode ajudar a minimizar os sintomas da disfagia, garantindo uma alimentação segura e melhorando a qualidade de vida dos pacientes com Parkinson.
Revisão técnica: Patrícia Morinigo Paes, fonoaudióloga clínica e domiciliar, na ReabilityClin, especializada em Voz e Disfagia.